Fui para o café do hospital para esperar
o resultado de um exame e, chegando lá, deparo-me com o grande homem. Um
daqueles que todos gostam e respeitam, que em oitenta anos de vida vitoriosa e admirável.
Ele com um semblante marcado pela dor. Pergunto como
vai e ele me responde: “Minha mulher vai muito mal. Muito mal, mesmo!” Isso respondia
à minha pergunta. “E eu precisava dizer isto!” Completou ele, com sua bela voz
trêmula de emoção.
A filha, ao lado, mais tranquila,
contou-me o que eles estavam passando. A mãe, mulher do grande homem, estava há
40 anos sofrendo com uma doença crônica e agora, aos 77, os danos causados pelos
medicamentos que ela teve que tomar todo esse tempo, vinha apresentando
sintomas cada vez mais difíceis de lidar.
Cinco dias antes daquele encontro ela tinha
se sentido mal, ido para o hospital fazendo piada e dizendo que precisava tirar
uns dias no SPA, e lá chegando perdeu a consciência. E até aquele momento não
havia recobrado mais.
Ela contava a história e ele chorava
mansamente. “Ela é uma guerreira”, dizia ele com a voz embargada e os olhos
embaçados. E eu conseguia vislumbrar sua dor: em parte queria que ela não mais
sofresse, que ficasse boa para ser a mulher bem-humorada e amorosa. Por outro
lado sabia que se ela ficasse livre do sofrimento, provavelmente seria por
tê-los deixado. Pior, temia pela sua ausência de 5 dias. Até quando duraria? E
se? Sem se despedir? Tudo isto eu imaginava ver em seus olhos. A filha parecia
mais preocupada com ele. Sabia que tinha que cuidar de um e de outro. Mulher
bem criada, de um lar feliz e amoroso.
Fiquei pensando na dor do amigo e em como
o amor permanece intacto, sem nenhuma ruga, sem cabelo branco, forte e vigoroso.
Só porque a gente quer ou porque temos a sorte.
A voz do grande homem, falando dela, lembrava
a de um adolescente diante da possibilidade de perder o grande amor.
Pensei que o amor pode permanecer mesmo quando os
amantes se vão. Os dois. Naquilo que o amor frutificou, iluminou, coloriu. E
tanta gente, eu mesmo, perdendo tempo com problemas pequenos.
- Por: Leo Jaime
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